segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Por que está tão pesado?

Marcio Trevisan
Tudo o que é pesado não é de Deus. Penso nisso toda vez que me sinto sem forças em relação a alguma situação. Se na sequencia pergunto-me por que pesa, normalmente descubro que assumo papéis que não são meus o que, invariavelmente, me tira dos meus propósitos de vida - que também são os de Deus.

Tenho dois filhos pequenos, quero ter mais um, sou separada e conheço um divorciado com uma filha e um ex-casamento mais complicado do que o meu. Porque quero ter uma familía, unida e harmoniosa - com a filha dele, os meus e o que ainda vamos ter, lanço-me na armadilha de assumir o controle e a responsabilidade sobre todos estes relacionamentos como se pudesse evitar conflitos e fosse capaz por mim mesma de resolver tudo e decidir qualquer coisa no lugar de quem quer que fosse. 

Ficou pesado por que? Porque quiz ser mãe da minha enteada, assumi o papel também do pai dela. E mais: (diria o vendedor das facas Guinzo) intermediei - não - me impus (com a aprovação de todos, é claro) como o elo entre ele e a ex. Fui demais - de besta! Me cansei e é claro me dei muito mal.

Gastava uma energia tremenda para atrapalhar Deus. Impedia meu marido de se resolver, do jeito dele e daí (?) com a ex; de encontrar um modo de ser um pai presente na vida de uma filha que não poderia viver com ele. 

E depois de achar que tudo seria bom se fosse do meu jeito - porque eu decidia tudo, encontrei-me com a face mais dura desta realidade, nos papéis que eram realmente meus - o de esposa, de mãe dos meus filhos e de madastra da minha enteada - eu deixei quase tudo a desejar. Pesou e muito.

Tudo estava fora do lugar. Mas bastou que eu voltasse aos meus papéis para que tudo se reposicionasse. Algum tempo e esforço para me perceber, coragem para encarar estes desvios e, principalmente uma overdose de confiança no amor foram ingredientes indispensáveis. 

No dia-a-dia, no caminho de mudança, muitas vezes não sabia como agir, como me posicionar, o que falar. Nestas horas, não falava, não me posicionava, não agia. Com o tempo aprendi a me perguntar antes de reagir: "qual é o meu papel nesta situação?" E então, respondia levando em conta qual seria minha melhor maneira de desempenhar este papel. E se o meu interlocutor ainda não era capaz de identificar a diferença entre uma simples opinião e uma determinação minha, simplesmente me calava, apoiando-o apenas.

Quando nos reposicionamos com opiniões diferentes do que as pessoas a nossa volta estão habituadas, desacamodamos tudo. É incrível, mas a tendência ao comodismo, mesmo em cenários ruins é quase imperativa. É preciso ter força de vontade para viver relacionamentos saudáveis. Mas vale a pena. Leveza, visão e felicidade estão entre as recompensas. Mas o melhor de tudo é a incrível sensação de estar vivendo a verdade e de verdade!

Está pesado? Você está fazendo a tarefa de quem? E enquanto você faz a dos outros, quem está fazendo a sua? Responda. Conheceis a verdade e a verdade vos libertará. Confia. Funciona.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Sim, eu sou um controlador

Marcio Trevisan
Durante a maior parte da minha vida assumi a função de controlar a vida dos outros. É duro demais reconhecer e ainda publicar esta terrível verdade, mas... sou eu que quero brincar disso.

Controladora, mas não deliberada ou maldosamente, é claro. Porque antes de tudo, sou uma pessoa muito legal, muito bacana que se preocupa mais com a felicidade dos outros do que com a  própria. E mais: com a disposição de fazer mais pelo sucesso e bem estar dos que estão a minha volta do que por mim mesma. Sempre fui cristã e, inclusive acreditava que desta maneira conquistaria meu sonhado lugar no céu. Aprendi isso desde pequena.

Minha dedicação, meu tempo, meu amor, meu trabalho, meu dinheiro, meus bens em função dos outros, em primeiro lugar. A tal ponto que sempre tive uma dificuldade,  vergonha mesmo, de usar qualquer tipo de vocábulo que indique posse. No máximo, um "nosso", no lugar de "meu", para não ferir ninguém com meu capitalismo ou minhas realizações.

Você está achando muito cruel este perfil? Então agregue a esta bondade, passível de um processo de canonização, o poder praticamente divino  de entender, perdoar ofensas, promover incondicionalmente a harmonia entre as pessoas, principalmente os familiares, ao meu redor.  Santidade pouca é bobagem!!

Com este estilo de vida, eu sempre estava ocupada - este não é o problema, mas sem nenhum tempo pra mim. O consumo de energia e de tempo para administrar todos os relacionamentos a minha volta e os seus problemas corriqueiros era desumano. O pai (meu ex-marido) não podia brigar com os meus filhos; o filho não devia desrespeitar o irmão, se alterar com o padrasto - nem pensar; o meu marido não podia se desentender com a ex dele; os meus filhos não podiam quebrar o pau com a minha enteada e nem a minha enteada .... No trabalho, em outro âmbito, a mesma coisa, evidentemente.

Eu estava sempre no meio de tudo, como um polvo intermediando com seus tentáculos elásticos todas estas relações. E ainda, os problemas mesmos, as situações concretas, a demandar soluções e encaminhamentos administrativos e burocráticos eram de responsabilidade exclusivamente minha. Claro! A quem mais eu poderia delegar assuntos tão importantes? Quem faria melhor do que eu? Ninguém, é óbvio.  

Para tentar - sabendo que não é possível, me redimir deste terrível perfil, digo que não estou sozinha. Permita-me este testemunho alheio. Recentemente, uma conhecida - tão "bacana" e "nada" controladora, como eu - confessou algo incrível. O  marido ao executar uma tarefa doméstica que ela não consegue fazer (tipo conserto elétrico) deve aguentá-la ordenando qual das mãos ELE deve usar. "Mas eu sei que ele trabalha melhor com a esquerda, porque vai fazer com a direita?" Ufa!! Estou salva!
A coisa chega a este nível!! Mas, só é possível vestir esta máscara de santa, que cuida e é responsável por absolutamente tudo neste mundo de perfeição que temos a missão de criar, porque temos disponível o super, maravilhoso, eficiente e gratuito: piloto automático. Detalhe: este profissional tem apenas uma atribuição: desviar a nossa atenção de nós mesmos e nossos verdadeiros papéis na vida, para que possamos nos gastar na tentativa impossível de controlar a vida dos outros. e, com isso a nossa própria.

Se você já se deu conta que é um controlador, muita calma nessa hora. É difícil assumir isso por mais que há algum tempo o adjetivo esteja sendo jogado na sua cara! Então, se neste momento você está se dizendo "sim, eu sou um controlador", um super parabéns para você.

O próximo passo NÃO é deixar de fazer tudo o que você tem feito até hoje. Calma. Primeiro, cuide apenas do piloto automático - coloque-o no paredão e o fuzile com vontade. Garanto que ele não morrerá nem com uma sessão coletiva de artilharia pesada.

Comece, percebendo quando ele está ligado! Para isso, identifique os seus sentimentos - de forma verdadeira, diante dos pequenos acontecimentos do seu dia.  Preste atenção em você - e não no outro -  antes de responder, se posicionar ou agir. Pergunte-se qual é o seu papel na situação - de mãe, pai,  filho,  chefe, subordinado, amigo... Mais à frente complemente: de que maneira  quero desempenhar este papel?

Com mais tempo, deixe para o outro o que é responsabilidade do outro. Cada um no seu quadrado: porque pai e filho só se conhecerão e terão um relacionamento verdadeiro, se puderem brigar, conviver de verdade, se posicionarem diante de suas diferenças. Não tema, as divergências, principalmente dos outros, em relaçao aos outros. Confie mais no amor que une as pessoas. E aprenda: não há nada a fazer, o controle não é seu, por mais que você queira. O comando é de Deus. Deixa esta tarefinha básica pra Ele.

Cuide para que você cuide só da sua vida - sem controle! Converse mais com Deus. Aos poucos, o piloto automático vai perder o emprego.

Agora, se você ainda não teve coragem de assumir a sua condição de controlador, fique com esta dica: o controlador é sempre controlado por alguém ou alguma coisa. Pense nisso, funciona.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Vamos nadar?

Foto: Marcio Trevisan
Muito antes de reconhecer que meu segundo casamento caminhava para o fim, deu uma vontade louca de fazer exercícios físicos. A alternativa mais razoável para a minha jornada - sempre excessiva de trabalho, era aproveitar uma hora de espera dos meus (dois, à época)  filhos que treinavam natação, depois do horário normal de aula. Tudo bem que eles tentavam fingir que não conheciam aquela mulher, com aquele nado desengonçado, na última raia. Era um mico pra eles que tinham 12 e 10 anos.

Eu já sabia nadar, mas sempre tive dificuldade em coordenar a respiração com as braçadas. Desta vez, porém, surgiu uma situação nova. Quando eu mergulhava e tentava abrir os olhos, ocorria uma sensação de pânico. Ao abrir os olhos, a respiração era cortada de súbito, eu engolia água e batia um medo que me fazia parar de nadar.

Não conseguia entender. Insisti. No meu jeitão de racionalizar tudo e tentar construir uma analogia entre o meu estado físico e o emocional, percebi que simplesmente não conseguia enxergar e respirar ao mesmo tempo. E insisti mais. Não conseguia sobreviver, sem me iludir, sem mentir para mim mesma.

Na água, a treinadora providenciou um óculos como recurso paliativo. E assim, a cada mergulho agreguei um pensamento: "quero respirar e enxergar; respirar, sobreviver e enxergar a realidade" - sem máscaras, sem me fantasiar e nem maquiar as pessoas com as quais me relacionava".

Nadava e pensava, olhava, pensava, respirava, olhava e nadava.

Dia após dia, na piscina, a coordenação motora, impulsionada pela força desse pensamento permitiu-me organizar os movimentos de braços, pernas e cabeça com a respiração e... o abrir dos olhos. Meu nado melhorou.

Não muito tempo depois, quando a verdade foi prevalecendo sobre a mentira medonha que reinava naquela relação e toda dor e confusão tomaram conta de mim, voltei mentalmente à piscina. Lembrei-me que eu mesma fiz  a opção de conhecer a verdade e sobreviver. Eu havia rejeitado, de fato, a mentira.

Quando cheguei ao fundo do poço da desilusão e decepção foi nesta base que toquei  para impulsionar-me de volta à superfície.

Encarar que eu não podia sequer me colocar como vítima do mentiroso que era o meu marido, mesmo que isso fosse verdade, foi muito dolorido. Mas eis que sempre nos cabe uma escolha.  Afinal, por mais humilhada ou pra baixo que  pudesse me sentir, o modelito de vítima eu nunca consegui vestir. Mais uma escolha! A verdade maior e gritante: ninguém podia mentir mais para mim do que eu mesma. Euzinha fiz isso! Construi um mundão alicerçado na mentira. E isso não tinha nada a ver com o que, de fato, eu sempre quis.

Este foi um super ponto de partida para radicalizar e aprofundar na opção por este conceito de vida: eu e a minha verdade. Mentir para mim mesma, nunca mais, em qualquer área da minha existência.
Ainda é difícil, muitas vezes, mas  a escolha diária sempre será esta: a verdade.  E daí, a mensagem muito antes da piscina, passou a fazer muito mais sentido. "Conheceis a verdade e a verdade vos libertará". Sacou? E então, vamos nadar?

Duas novas atrevidas

As reuniões do Amigoterapia 2011 começaram animadas, com a participação de duas amigas que iniciaram esta aproximação no ano passado. É mesmo assim que acontece, quando estamos prestes a encarar uma jornada de auto-conhecimento. Passamos um tempo vagando, depois pensando mais concretamente sobre possibilidades, ou melhor impossibilidades. Desvios muitos e fuga fácil.

Bom respirar fundo e começar! As novas amigas no grupo são:

Amiga 4: divorciada, menos de 40 anos, mora com dois filhos, profissional da Comunicação.

Amiga 5: casada, mora com o marido e uma filha, profissional da saúde (nada a ver com psicologia ou psiquiatria), difícil vai ser saber a idade dela.