segunda-feira, 18 de abril de 2011

Você quer morrer de "quem vai lavar a louça"?

Uma vez eu quase morri de uma doença muito comum, mas pouco conhecida, chamada "quem vai lavar a louça?" É causada pelo stress e pode desenvolver outras como "porque as toalhas molhadas estão sempre sobre a cama?"; "porque você não está pronto na hora certa?" "Quando o seu quarto estará arrumado?". É uma enfermidade grave que pode causar outras - e estas podem levar à morte; como um enfarte, por exemplo, ou um AVC (acidente vascular cerebral). 


A notícia boa é que esta doença tem cura. Comigo, aconteceu assim. 
Foto: Marcio Trevisan 


O nível de stress estava altíssimo. Eu, para variar sobrecarregada. Os filhos, no auge de quase tudo de controverso que pode acontecer na adolescência. O marido, companheiro sim, mas o "reclamão" de tudo e sempre. Todos, com os nervos à flor da pele. E a louça, que não fui eu que sujei, para lavar. 


Neste cenário, decidir quem ia lavar a louça transformou-se em uma verdadeira guerra, com argumentos, contra-argumentos, rancores e ressentimentos desenterrados, numa discussão que evoluía para a desarmonia total, um cansaço tremendo e relações completamente desestruturadas. Autoridade nenhuma era capaz de por fim à crise. Depois da batalha, restava a louça suja para eu lavar. 


É claro que logo cheguei a conclusão que isso não poderia continuar. Preparei-me para a próxima vez, que não tardou a chegar. Decidida, me via preparada para me impor e resolver definitivamente a questão. Quando chegou a oportunidade, foi a pior de todas. A baixaria chegou ao ponto de o filho de 17 anos se arrumar para sair de casa, acompanhado da solidária irmã de 19. O filho de 8, desnorteado. O marido usando de todos os recursos da chantagem emocional sobre o valor da mãe deles para chamar a atenção dos enteados - que jamais reconheceriam a autoridade do padrasto. 


E eu? Incrível, mas neste caos, eu vi a solução. 


Em estado de grande exaltação me vi, com uma super crise de hipertensão. Em segundos, estaria sendo levada ao médico, tendo um infarto fulminante no meio do caminho. Morta, enfim. Velório com filhos e marido comovidos, talvez justificando algum remorso. Amigos e conhecidos a procura do que ocorreu nos meus últimos minutos de vida. 


E os diálogos: - "Do que foi?"; "Infarto, fulminante" - "Mas como? Ela parecia uma pessoa tão calma. O que aconteceu?"; "Foi uma crise decorrente do "quem vai lavar a louça". É claro que eu não poderia admitir isso no meu velório. E decidi que não queria morrer desta doença infernal.  


E foi assim, no meio da bagunça total que voltei a enxergar tudo com clareza e me senti capaz de resolver este terrível mal, sem ter que morrer por isso. 
Desisti de tentar mudar ou convencer marido e filhos a terem outro comportamento. Mudei eu.


Assumi o meu papel de dona de casa. Reorganizei meu acordo com a minha secretária para diminuir o trabalho doméstico excedente. No mais, eu mesma limpo quando estou descansada e a fim. Não deixo acumular coisas, além de um limite razoável. Faço tudo com amor e satisfação. Quando não estou com vontade, também não faço, com o mesmo amor e satisfação. Sem culpas, nem para mim, nem para os outros. Não permito que ninguém reclame porque está bagunçado ou porque estou gastando meu tempo que deveria ser livre para faxinar a casa.

Com o tempo, os filhos que ainda moram comigo - um já mora em outro Estado, ajudam e até lavam toda a louça, mas em outro estado de espírito. E eu também os educo, em outro estado de espírito. Sem identificar a louça suja como o grande problema, posso perceber o que deve merecer atenção e ser resolvido nos nossos relacionamentos. 


Hoje, tenho certeza que desta doença, não morrerei.

2 comentários:

  1. Manhe, o problema nunca foi a louça. E sexta, sábado e domingo elas foram minhas. uahuahua ;* filha

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  2. hsauhsuhs
    nunca será...
    Pois é, cada um lava quando se é conveniente.
    amo todos. "Filho 17"

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