terça-feira, 27 de setembro de 2011

Rapidinha na amigoterapia


Foto: Marcio D. Trevisan 

Uma empresária em um curso de gestão empresarial. Na apresentação ao grupo, abriu alguns poucos, mas importantes detalhes de sua vida pessoal. No intervalo do café, e diante de um comentário que fiz, ouvi dela o desabafo sobre a traição de um gerente que era de confiança e a roubou. 

A rescisão do contrato não eliminou o problema. O ex-empregado provocou, muito além do prejuízo, uma mágoa profunda que abalava até a disposição dela em continuar o negócio.

Foi assim que fiz esta nova amizade. Dei a dica: a confiança depositada em alguém é algo seu, da sua capacidade de confiar. O tempo demonstrou que o alvo deste crédito não era digno dele. Você não conhece o ensinamento: “Conheceis a verdade e ela te libertará?” Você está livre, agora, porque conhece o desonesto. E deve ter aprendido muito com isso.

Ela me respondeu de pronto com apenas uma palavra e um olhar iluminado. “Saquei”. Duas semanas se passaram. Encontramo-nos de novo no café do intervalo de outra aula. Daí, eu ganhei um abraço.

Sempre achei que as rapidinhas têm seu valor. Na Amigoterapia, também. 

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Sem amigo, não tem amigoterapia

Minha mãe sempre foi popular. Desde quando eu era muito criança, posso lembrar dela como um expoente entre as vizinhas. Ela só ia à casa das amigas, em caso de necessidade delas, uma doença, uma casa pra arrumar. Mas invariavelmente, no meio da tarde, quando a Ita lavava o quintal, acabava desligando a torneira para não desperdiçar água enquanto a fofoca rolava solta.

Eu era muito pequena, mas não gostava nada disso. Era fofoca mesmo! Para a minha mãe, uma falava mal da outra na ausência da outra. Eu achava feio. Mas a parte que mais me desagradava, eram as mulheres reclamando dos próprios maridos. Apontavam tantos defeitos! E depois continuavam com eles.

As horas passavam, a necessidade de fazer “a janta” para os homens que chegavam do trabalho e as crianças que voltavam da escola encerrava a conversa e acelerava a limpeza interrompida. E as esposas seguiam servis, persistentes e confiantes de que tudo melhorava.

Muito radical, nos anos a fio que se seguiram à infância assumi uma aversão a este tipo de papo entre amigas. Reclamação de comportamento do marido foi assunto proibido na minha vida, mesmo com as raríssimas pessoas que compartilharam, de fato, minha intimidade. Não, que eu não tocasse neste assunto. Eu o fazia na profundidade necessária para desviar-me dele.

Muitos resultados decorreram disso. Tantos e tão importantes!

Primeiro, o próprio divórcio. É muito legal você ter as rédeas da própria vida em suas mãos, ter autonomia para decidir e tudo o mais. Mas nunca abrir-se para expor seus sentimentos e pensamentos a alguém de confiança, para – assim, poder ouvir-se e checar-se nas situações é péssimo.

Meus mais queridos amigos chocaram-se  com a novidade do meu primeiro divórcio, mas receio que também devem ter se sentido muito mal em relação a não poderem de modo algum nos ajudar. De qualquer forma, a maioria afastou-se depois disso.

Outra conseqüência importante, neste caso, foi o quanto demorei para entender o meu casamento e a separação. Foram quase cinco anos de casada e mais de quatro anos para chegar a conclusões sobre as tais causas e conseqüências. Era muita coisa acumulada.

E se assim foi, o meu grau de desconhecimento sobre mim mesma e o distanciamento  do caminho  – será que isso estava compreendido antes? – que devia me manter inteira em qualquer relacionamento eram enormes. Foi tão grande, tão gigante que só uma intervenção divina – mais uma, para me socorrer. Deus enviou uma amiga nova, um anjo da guarda que seguirá comigo até o final dos tempos.  

Nesta amizade, fizemos um pacto de autoconhecimento, em respeito e amor. Não falamos mal dos maridos e de outros relacionamentos. Só se for muito necessário – porque ninguém é de ferro, caramba! Mas mantemos o foco no que sentimos diante de todas as situações e de como podemos agir para sermos melhores e mais felizes.

De tudo o que esta amizade me traz, percebi que as mulheres da Rua Coblenza e da minha infância, esposas de operários, sem condições de exercerem nenhuma profissão que tomasse o tempo necessário aos cuidados da casa e dos filhos, precisavam interromper a faxina de vez em sempre e abrirem-se uma com as outras. Esta era uma condição para a persistência e a confiança que as marcavam.

E aí está a qualidade ética destas conversas. No final, a outra ficava sempre sabendo que foi alvo de alguma crítica. Daí, o bafafá desandava até que todas pedissem desculpas e renovassem a disposição de amizade. E renovavam com toda a dimensão desta palavra. As vizinhas da dona Ita mantinham, com o mesmo fervor e sinceridade, a disposição de ajudarem-se – no que era preciso. A maledicência foi sendo expurgada destas rodas. E todas amadureceram, com certeza.

Pelo menos, a dona Ita que não está mais por aqui tornou-se campeã em amizade. Ninguém mais do que ela no quesito fazer e cultivar amizades. Grande ensino. Itaterapia – a melhor.

sábado, 6 de agosto de 2011

Um tumor maligno ensina a viver. Ou não?

Minha mãe e minha irmã. Foto: Talles Andriolli

Três meses que incluíram um atendimento de emergência, uma noite em UTI, uma montanha de exames e dias de sintomas muito esquisitos nos levaram até ali. Ali, era o leito de um hospital. Eu e minha irmã, ao lado da minha mãe que sofreria a primeira – de duas, cirurgia cerebral. Os médicos já haviam nos informado que o procedimento não é mais o monstro que foi até há alguns anos. Tipo assim: deixou de ser um monstro de 12 metros de altura e passou para um monstrinho de uns cinco, que ainda está longe se  ser amarrado em uma coleira.

O motivo do procedimento era bem mais monstruoso. Um tumor com quatro características apenas: invasivo, o mais agressivo existente, maligno e incurável. Naquele momento, minha mãe não tinha todas estas informações, apenas parte delas. A respeito da cirurgia, mais um dado relevante: não completaria um ano.

Então, estávamos nós três ali. Ali era também a nossa história. Ali era o nosso amor. Ali era tudo o que aprendemos. Ali era o início da despedida.

Perguntei às duas que estão entre as mais importantes mulheres da minha vida: como vamos viver isso? Nenhuma resposta porque minha irmã já estava chorando. Segui. Vamos passar como pessoas que tem fé ou como as que não têm? Não, como quem tem fé – veio a resposta unânime. Então, que seja de verdade. Porque quem tem fé acredita que a vida é eterna. E resolvemos passar este tempo, da mesma forma como passamos por quase tudo na minha família: com alegria.

O médico acertou. Da data da intervenção cirúrgica até o falecimento da Ita foram 11 meses. Um período em que nos dedicamos de todas as maneiras a aproveitar a presença da minha mãe e a nossa união com muita, mas muita alegria mesmo. As festas que já eram tradicionais ficaram mais animadas e os nossos encontros – todos muito especiais.

É claro que teve choro, que não faltou angústia de montes, raiva, dor. 

Mas ali - e ali foi um lugar de decisão, escolhemos aproveitar e valorizar o presente. Curtir intensamente. Meu irmão querido, tão sensível, teve coragem e permaneceu conosco. Foi lindo! Aquela decisão, antes de tudo realmente começar, contaminou toda a família – que é gigante, e foi o norte para os nossos sentimentos e relacionamentos. A experiência mais dolorida foi também a mais rica da minha vida.

Ali é hoje. Independente de perdas irreparáveis e pré-anunciadas temos a informação que nos basta: neste lugar, desta maneira, com estas possibilidades de relacionamentos a vida é finita. Ou será preciso um tumor  avassalador para aprender, de fato, a viver? Ou será que nem assim?


quarta-feira, 20 de julho de 2011

"Vocë é adiantado no atraso?"

Aos 28 anos, primeiro divórcio. Tive um problema de saúde e minha médica sugeriu-me um tratamento homeopático. Já sabia que isso não combinava comigo. Bolinhas ou gotinhas regiamente contadas para serem consumidas em períodos impróprios, como por exemplo, de quinze em quinze minutos. Nunca questionei o resultado, mas era fato que jamais poderia me adaptar a condições como esta para fazer qualquer coisa.
Foto: Talles Andrioli

Contudo, escolhi um especialista e parti para uma rodada de consultas e experiências com os tais glóbulos. Este homeopata foi a primeira pessoa a me questionar a respeito de ansiedade. Perguntou-me: “Você é ansiosa?” Ao que respondi de estalo: “Claro que não, só não suporto a morosidade dos outros.” A conversa não prosseguiu, nem o tratamento – porque o médico disse que não conseguia me diagnosticar. Pasme: ele acreditou na minha resposta.

E por mais 20 anos, não pensei nisso.

A resposta dada ao médico não denunciava apenas a ansiedade. Ia junto, uma dose de arrogância, prepotência, autoritarismo. E não denunciava outro componente importante dos meus atributos, o perfeccionismo. Mas o pior de tudo, era que eu gostava de ser assim. O pique, o dinamismo, a disposição infinita, a energia eram marcas conseqüentes que encobriam a verdade – a ansiedade. As pessoas elogiavam, mesmo as mais próximas, que não podiam (-Claro! Quem iria querer?)  me acompanhar.

Duas décadas neste padrão deram-me, além de dois divórcios, abortos de várias outras iniciativas mais significativas para a minha vida. Mas, sem dúvidas, a pior conseqüência dizia respeito a duas situações: a minha saúde e a qualidade dos meus relacionamentos mais importantes - com os filhos no topo da lista.

Como demorei a me diagnosticar como uma ansiosa, de carteirinha! Difícil, porque eu também sou uma pessoa muito paciente – não sei como descrever o funcionamento de duas características tão antagônicas em uma mesma pessoa, confesso. Parece que tudo funciona para encobrir o que deve ser corrigido.

E olha, que desde muito jovem, meu avô Tunico perguntava-me, quando me percebia na correria: “Você está adiantada no atraso?” Eu só achava graça, mas quanta sabedoria!

O real diagnóstico veio depois das primeiras férias de trinta dias em quinze anos de trabalho.  Tive a oportunidade de fazer uma viagem e ficar todo o tempo fora de contato, sem nenhuma preocupação e pouquíssimas informações a respeito do meu mundo. Não fiz nenhum compromisso, nem mesmo o de descansar ou me divertir. Fui, simplesmente. Mas para permanecer em cada local visitado, de corpo, alma e espírito, foi preciso muito empenho e orações.  Consegui, afinal, e voltei.

Duas semanas depois e eu precisava “resolver a minha vida”. Estava para dar cabo de um projeto que consumiu esforço da minha família e de muitas outras pessoas nos últimos dez anos.  Não era possível estar tão cansada, esgotada, sem forças, sem visão. Sim, eu poderia acabar com tudo e começar outra coisa nova. E como é bom o começo, com suas novidades animadoras e renovadoras.

Uma conversa com um amigo, que é contador, colocou-me diante do fato que, desta vez, enxerguei de forma transparente. Era mais fácil, pra mim, simplesmente abrir mão de tudo e reiniciar do zero do que me perguntar o que poderia fazer para eu ser nova, para identificar os limites que impediam meu crescimento e realmente ultrapassá-los.

Conforme meu entendimento sobre a ansiedade se ampliava, sentia vergonha de demorar tanto para percebê-la. E meu primeiro exercício foi não ficar ansiosa para acabar com a ansiedade.

A voz de Deus em mim passou a me dizer (agora eu a ouvia) a todo instante: “Espera!” É difícil mudar o padrão de uma vida inteira. Confio e troco a ansiedade pela serenidade. É uma troca incrível! Com ela, consigo permanecer no presente – em tempo, espaço, pessoas e eu mesmo. É claro que ainda tenho que me segurar para não disparar para o futuro ou o passado e manter a minha atenção, em verdade, no aqui e agora.

Encaro as alegrias, os dissabores, o que pintar; me posiciono, sem me preocupar em ser perfeita. Tenho um Deus perfeito e a consciência de que nunca atingirei a perfeição - ainda bem!

Como bem tentou ensinar o Tunico, aquele que quer se adiantar está fadado ao atraso. O presente é o tempo da vida, o único que pode ser afetado, impactado e modificado pela minha presença. Se eu estiver presente. Tunicoterapia, valeu!



sexta-feira, 15 de julho de 2011

Abri uma conta para o diabo

Foto: Talles Andrioli
Pra mim, o diabo tem menos função, a cada dia. Seus discípulos humanos estão por aí, praticando maldades por conta própria, sem precisar de um deus do mal para lhes enviar a agenda de tarefas do dia. Talvez isso ocorra, porque estas pessoas permitiram uma over, mega, top, plus, power dose de inspiração maligna ao longo do tempo.

Como uma casa que nunca é limpa. Um pensamento ruinzinho aqui, uma experienciazinha maléfica ali, bem pequenininha, um sofrimento para ser justificado, tudo distorcido e aumentando em importância. Dali a pouco, a sujeira se acumulada e não só encobre tudo o que era limpo, mas gruda de um jeito que incrusta, entope, destrói.

Quando uma pessoa chega neste ponto, imagino eu, que o diabo fica só curtindo, sem tanto trabalho a executar. Também acho que o diabo não gosta de trabalhar. Bom, pelo menos faxina, com certeza, detesta.

As pessoas que tentam manter a casa limpa, obviamente recorrem a Deus porque a tarefa, decididamente não é para humanos. É certo. Deus, me perdoa! Deus, me ajude. Deus, me socorre. Deus, me ensina. Deus me capacita. Realmente, Deus tem muito trabalho.

Mas a coisa complica quando duas pessoas convivem. Nem precisa ser uma convivência sob o mesmo teto. Há um exercício sem fim, um estica e puxa, um vai e volta, um cede e avança, normal e salutar nesta experiência. Que são todas! Claro, porque até duas pessoas que gostam de casa limpa, ainda vão discordar de como, quando e o quanto limpá-la. E se uma gosta de casa limpa e outra não se incomoda com a bagunça é muito, mas muito mais complicado.

Bem, fiquemos na primeira hipótese.

Vou na minha toada: vivo, sinto, percebo, amo, perdôo e me perdôo  – sete vezes sete vezes por dia como ensinou Jesus Cristo, e sigo em frente. Até que a divergência entre nós (perdoe-me, mas desta vez, não identificarei meu coadjuvante) falou mais alto. E muito. Explicações dadas, argumentações, justificações. Dias passados e mais conversas, reflexões e explanações.

Reflito com meus botões que o caso precisa de tempo para ser resolvido. É necessário constatar, de fato, resultados concretos para se perceber a razão, a evolução, a melhoria – ou não, a piora. Espero e me aquieto, com mansidão (sem provocação). O patner  avança na reação e me ataca pessoalmente. De cara, já sei que não posso deixar de ouvir – já que não sou surda, mas não vou acreditar nas suas declarações pejorativas. Lanço mão, imediatamente, do aprendido na aulinha do perdão.

Mantenho o foco na situação e não respondo as provocações. Questiono-me e decido: não desistirei. Eu quero este relacionamento firme, saudável, verdadeiro. Renovo minhas energias: o problema será resolvido, esta crise vai passar.

Permita-me um parêntese, neste ponto: você está ou não está me considerando uma verdadeira santa até aqui? Ok, obrigado.

Mas daí, a criatura recrudesce e eleva o nível dos seus ataques.  Neste momento, em que me vi sem saída, quase joguei a toalha e mandei a santidade aos ares. Mas daí, uma inspiração! Não tive dúvidas: abri uma conta para o diabo.

A cada ataque, ouvi, senti e perdoei, mas pedi a Deus que fizesse a seguinte consideração: - Senhor, o que esta pessoa fala não é verdade. Não é verdade sequer sobre o que ela mesma pensa ou sente. Tudo isso, vem do diabo, que fala pela boca dessa pessoa para me atingir e destruir este relacionamento! Deus, coloca tudo isso na conta do diabo.

Ah! Um alívio tremendo por mais algum tempo. A cada blasfêmia, eu fazia com fervor a minha oração, mentalmente.

Tudo ficou melhor, mas aconteceu que, com mais tempo, a conta que eu abri para o diabo ficou imensa. E, finalmente não aguentei mais.  Na última vez que fui atacada, devolvi sem pestanejar: - Tudo o que você tem me feito e falado para me agredir, tenho colocado na conta do diabo. Não quero nem ver o que vai acontecer quando ele resolver cobrar!


Graças a Deus, esta declaração ecoou fundo e instantaneamente na mente dessa pessoa, que também tem fé. Funcionou como um choque de consciência!

E durante o transcurso da conta do diabo, a situação também mudou. Quando dei por encerrada a conta e a pessoa parou de reclamar, questionar e blasfemar, os frutos das mudanças implementadas e que causaram a divergência começaram a aparecer de forma concreta. Cada um pode constatar os resultados positivos e negativos. Pudemos melhorar ainda mais. De vez em quando ainda uma farpinha, mas respondo conforme me ocorre no momento.

Considero que não se pode brincar com o diabo. Deus é bem humorado, mas também nào está pra brincadeiras. Por favor, peço penhoradamente que esta experiência não seja reproduzida em casa, principalmente por menores de idade e pessoas que ainda não tenham um bom grau de intimidade com o Criador. Cuidado, hein!! Quem ainda não conhece Deus, não deve mexer com o diabo. Diaboterapia – nem pensar ! !


terça-feira, 12 de julho de 2011

Para ser bom, treine

Não sei quando, nem onde li, mas esta frase me pegou: para ser bom, treine. De cara, remeti a ordem aos atletas que dedicam a vida à quase, exclusivamente, uma só tarefa: treinar para ser o melhor em uma única coisa. Tenho um filho que a partir dos cinco anos de idade decidiu e fez isso durante quinze anos. Horas e horas, todo dia, mergulhado em braçadas, pernadas e respiração sincronizadas. 


Foto: Talles Andrioli

Depois, pensei na bondade como um atributo difícil de ser conquistado, incorporado à própria personalidade. Sim, para ser bondoso, é preciso treino. E muito. Lembrei-me dos sete ou oito hábitos das pessoas vitoriosas e de outros métodos-best sellers consumidos à ufa na perseguição do sucesso.

Finalmente, reflito que para sermos bons em qualquer coisa que queremos ser, precisamos e devemos treinar. Treino é a palavra. Disciplina, digamos, seja uma irmã dela. E como tão sabiamente ressalta o incrível poeta do Legião Urbana, Renato Russo: disciplina é liberdade.

Perdoe-me pelo óbvio, mas tenho que reconhecer que em algumas áreas da vida, demorei muito a perceber esta verdade básica, identificada pelo meu próprio filho e aos cinco anos de idade. De novo! Uma humilhação!! Eu poderia até tentar uma saída -  nada honrosa, admito. Para ser bom em casamento, treine! Eu me casei três vezes. É um treino e tanto!!

O fato é básico. Não resolve muito sair treinando, sem saber o que de fato se quer. Em qual pódio quero estar? Quero ser a campeã em números de casamento? Quero figurar no Guiness Book como a pessoa que mais iniciou projetos? Ou apenas como a expert em fazer planos mentais, todos criativos, estratégicos e sensacionais, sem nunca tê-los executado, muito menos concluído?

Quero ser a melhor mãe? Treino.Todo dia, toda hora, de todas as formas. Reviso minha atuação até aqui.  Pesquiso, converso com outras pessoas, conheço várias experiências. Ouço. Percebo-me. Não deixo acumular erros e problemas que se corrigidos imediatamente ficam do tamanho que realmente são: pequenos. Considero com a precisão possível e sincera, meus pontos fortes e com muito carinho, meus pontos fracos. Revejo conceitos, desinstalo o preconceito. Evito a rima e não descarto a poesia.

Quero ser melhor esposa? Melhor profissional, melhor chefe, melhor amiga, melhor filho, namorado, vizinha, cozinheira, cantora!?! Note bem: quero ser melhor, todo dia. Não, a melhor uma única vez.

Tudo é possível. Tudo bem, nem tudo lhe convém. É certo, ensinou Jesus Cristo, o próprio. Nem dá para fazer tudo. Escolha! O que você quer ser, a cada dia. E depois, como você quer ser, a cada dia. Feliz, é claro. Vamos treinar. E nos divertir.



sábado, 9 de julho de 2011

Perdoar, sim. Manter a convivência, nem sempre

Perdoar é incondicional e um mega ato de fé (leia também Aulinha do Perdão), mas quando uma pessoa reconhece que mandou  mal e, com isso ofendeu alguém, deve como ato conseqüente ao perdão, arrepender-se do comportamento e não agir mais da mesma forma. É mais ou menos assim: pisei na bola, reconheci que foi mal, pedi perdão e decido e vigio para mudar o meu próprio comportamento para não ofender mais. Se for assim, a amizade continua.
Quando a mudança de comportamento não acontece, o ofendido tem o direito de afastar-se do convívio com o ofensor a fim de não se submeter a novas ocorrências ofensivas.
                                                                       Foto: Talles Andrioli
Toda pessoa deve amar o próximo como a si mesmo, diz o segundo mais importante mandamento, conforme falou Jesus Cristo. Portanto, sem egoísmo, cada um deve amar a si mesmo, respeitar seus sentimentos e, principalmente proteger-se quando o próximo não consegue parar de fazer-lhe mal.
Isso também foi novo para mim. Uma nova interpretação aos ensinamentos de Cristo que fazem a diferença para relacionamentos saudáveis e verdadeiramente cristãos. O perdão é realmente incondicional, mas a convivência é uma opção e não desagradamos a Deus com isso. Há relacionamentos impossíveis e mantê-los, sem respeito recíproco, amor e carinho realmente não combinam com o que é cristão e, portanto, podem agradar ao nosso Pai.
Uma pessoa que pratica a violência deve ser perdoada pela sua vítima, mas se a prática continua, como é possível que a vítima continue se mantendo como alvo? O mesmo vale para uma traição, e qualquer outra situação de desrespeito.
A verdade nos liberta e devemos assumir a verdade dos nossos relacionamentos. É possível recuperar a saúde desse relacionamento? Se não for, o relacionamento não deve ser mantido. Devem permanecer o amor, o carinho, o desejo de felicidade em relação a pessoa, mas com o reconhecimento que a convivência saudável  é  impossível.
Perdoe sempre, mas escolha com quem e em que condições suas relações devem ser mantidas. É preciso manter ambientes harmoniosos, onde possa fluir o amor e a paz. As adversidades virão e é preciso ter esta base para superá-las.
Muitas vezes, um afastamento total temporário é  o suficiente. Outras vezes, mudar a forma de convivência resolve. Tipo: não dá para ser amigo confidente, mas é excelente companhia de diversão. Não serve para negociar com ela, mas os conselhos são muito legais. Não posso continuar seu namorado, mas ... que Deus te acompanhe...

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Você tem razão

Uma questão que pode provocar  rompimentos em relcionamentos de toda natureza diz respeito a "ter razão".  Uma situação que nos faz sofrer é motivo de análise profunda, mas com um objetivo maior: provar que eu estou certa. Se mantivessemos o foco na situação, encontrariamos a solução mas dirigimos nosso olhar à nossa razão.

Remexo minhas memórias para localizar um caso que não encontro. Mas posso afirmar, com certeza, este foi um grande problema - intransponível, por sinal, no meu primeiro casamento. Discutimos muito pouco, outro problema enorme, mas o pouco que debatíamos se resumia ao esforço que eu fazia para provar, comprovar e demonstrar que eu estava certa. E ele, errado - sempre, é lógico.

Então, é óbvio, que o meu posicionamento desta maneira só poderia resultar em uma reação: "Não. Quem está certo sou eu". E nenhum dos dois discutia mais a situação e suas possíveis soluções porque o mais importante era um convencer o outro da razão certa - que sendo uma só, só poderia ser a minha. Até porque, eu como todos sabem não erro. Nem sem querer, muito menos por vontade. E se eu não errava, muito menos o meu marido à época, com certeza, chegaria a tal conclusão sobre si próprio.

As conversas não tinham conclusão. Acabavam sempre em um cansaço de dar dó. Os dois exauridos e tensos. Até que o desfecho já tão previsível foi substituído pelo silêncio infinito. Tudo fora do lugar e tão próximo de se acertar, mas ninguém tinha mais nada a dizer.

É tão burro isso e de uma burrice tão evidente que chego a pensar que depois que me corrigi, este problema deve ter sido varrido da face da terra.
Não há uma só razão para coisa alguma. Uma só pessoa tem várias razões ou visões sobre uma mesma possibilidade. Vivemos de tentar escolher a melhor, a cada oportunidade. Se escolhemos uma, perdemos as outras alternativas. E todas - a escolhida e as relegadas, certas - ou erradas.

Imagine duas pessoas, diferentes em educação, gosto, religião, time de futebol, aspirações profissionais, políticas e sociais. A tentativa de viver em comunhão, sob a égide de um projeto comum, não elimina estas diferenças. Nelas, existem várias razões e todas erradas ou todas certas ou metade certas e metade erradas, conforme o estilo, a posição e o interesse de um ou outro.

Por isso, o foco não deve ser na própria razão. Nem na razão do outro - o que também seria um grande equívoco. A atenção deve estar centrada no nosso sentimento, com respeito ao sentimento do outro, mas com o carinho máximo, maior, sobre o que sentimos e fazemos e principalmente sobre o que fazem conosco ou em relação a nós. Tenha certeza, isso não é egoísmo. Meu foco é, em primeiro lugar,é o meu sentimento, mas o meu objetivo é a manutenção de um relacionamento saudável, harmonioso.

Este é um super princípio para estabelecer limites que nos protejam e resguardam a nossa identidade e contribuem para relações bacanas. É uma prova de amor próprio. Sinceridade para com a gente mesmo. Temos que reconhecer o que nos agrada, o que nos toca, nos alegra, nos entristece ou nos enraivece e reagir diante disso, com muita compreensão pelo outro, mas cheios, prioritariamente, de auto-respeito. 

"Você tem razão, mas isso, dessa maneira, me entristece, me deixa mal. O que podemos fazer? Eu não sei a solução, mas será que podemos encontrá-la juntos?" Já pensou em começar a próxima conversa assim?

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Resistir ou não resistir?

Foto: Marcio D. Trevisan
A primeira vez que o Tainã – meu filho do meio – tomou uma vacina, consciente da picada da agulha, foi aos quatro anos de idade. Fofucho, lindo, na fila do posto de saúde tudo era alegria até o berreiro da criança que o antecedeu. Na vez dele, a desconfiança tomou conta da salinha, onde a enfermeira aplicava a vacina.

Tainã percebeu a situação e armou, aos berros, chutes, socos e pontapés, o desmonte da sala. A enfermeira me consultou com um olhar ao que eu devolvi: "- vai ser agora". Porta fechada, imobilizei o anjinho e a enfermeira realizou o trabalho com louvor.

Imediatamente à picada, Tainã calou-se. Para o meu espanto, não demonstrou nenhuma indignação ou raiva. Apenas um silêncio calmo, muito próprio dos momentos de profunda reflexão. Saímos, rumo ao estacionamento. Tão logo ficamos às sós, Tainã soltou a grande questão:

- Mãe, não adianta nada, eu não querer vacinar?

Grande sacada! Filhoterapia aos quatro anos de idade!

E agora, me aplico a mesma vacina. Afinal, um dos indicadores da máxima sabedoria é saber identificar as lutas que devem e merecem ser encaradas. As outras batalhas, simplesmente, devem ser dispensadas.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

A mocinha e o maconheiro do bairro

Já contei que fui uma criança e adolescente exemplar. Primeira aluna da classe, obediente em casa, prestativa para a vizinhança. Meu primeiro namorado, só aos 16 anos: o maconheiro da região. E na época, o rótulo era o fim.
Três meses de namoro escondido, eu já a fim de romper, meus pais descobrem a façanha. A casa caiu. Eu, então, não poderia terminar o namoro porque pareceria sucumbência à determinação alheia, ainda que superior. Mantive-me durona, o namoro firme.
Coube ao meu pai a tarefa de conversar com a filhota. Foi aí que tive uma grande lição, que me deu base segura para  a edução dos meus próprios filhos.
Só nos dois, sentados à mesa da cozinha, sem absolutamente nada que pudesse nos atrapalhar. A conversa objetiva, mas plena e densamente carregada de amor. Primeiro, com a calma que lhe era peculiar, checou as informações que ele já tinha. Eu, serenamente, sem medo ou petulância,  confirmei.
Na sequencia, disse: "Rê, pelo que eu conheço de você, pelo que eu conheço desse moço (ele morava no mesmo bairro e a nossa família se relaciona com a dele) não há motivos para esse namoro dar certo. Eu sei como você foi educada. Pela experiência que eu tenho, gostaria de poder evitar que esse namoro prosseguisse, porque temo que você sofra e isso é algo que eu não quero. Mas a vida é sua e as escolhas devem ser suas para que você tenha as suas proprias experiências. Eu quero que você saiba que este é o seu primeiro namorado e eu e sua mãe estamos ao seu lado."
É lógico que eu me apaixonei ainda mais pelo Geraldão, o meu pai. De cara, mesmo do alto dos meus 16, identifiquei com quanta sabedoria estava cercada. Sem um mílimetro de pressão ou chantagem emocional. Ele ainda se mostrou orgulhoso por eu estar iniciando uma nova e maravilhosa fase de vida: a dos namoros.
O namoro? Ah! Foi só o primeiro mesmo.
Esse ensinamento me guia até hoje, principalmente no relacionamento com os meus filhos. A vida é sua, a escolha é sua, as consequencias - boas ou não, são suas. Eu continuo mãe, oferecendo conselhos e experiências se me pedem; às vezes nem pedindo. Normalemente, ajudo-os oferecendo a possibiloidade de analisar os vários cenários previsíveis em qualquer situação. E quando concedo uma opinião, ressalto a necessidade desta ser tratada apenas como uma opinião e não como sugestão e jamais como imposição.
Valeu, Geraldão! Você foi o máximo na minha vida. Enorme privilégio para mim. Grande Geraldoterapia!

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Você quer morrer de "quem vai lavar a louça"?

Uma vez eu quase morri de uma doença muito comum, mas pouco conhecida, chamada "quem vai lavar a louça?" É causada pelo stress e pode desenvolver outras como "porque as toalhas molhadas estão sempre sobre a cama?"; "porque você não está pronto na hora certa?" "Quando o seu quarto estará arrumado?". É uma enfermidade grave que pode causar outras - e estas podem levar à morte; como um enfarte, por exemplo, ou um AVC (acidente vascular cerebral). 


A notícia boa é que esta doença tem cura. Comigo, aconteceu assim. 
Foto: Marcio Trevisan 


O nível de stress estava altíssimo. Eu, para variar sobrecarregada. Os filhos, no auge de quase tudo de controverso que pode acontecer na adolescência. O marido, companheiro sim, mas o "reclamão" de tudo e sempre. Todos, com os nervos à flor da pele. E a louça, que não fui eu que sujei, para lavar. 


Neste cenário, decidir quem ia lavar a louça transformou-se em uma verdadeira guerra, com argumentos, contra-argumentos, rancores e ressentimentos desenterrados, numa discussão que evoluía para a desarmonia total, um cansaço tremendo e relações completamente desestruturadas. Autoridade nenhuma era capaz de por fim à crise. Depois da batalha, restava a louça suja para eu lavar. 


É claro que logo cheguei a conclusão que isso não poderia continuar. Preparei-me para a próxima vez, que não tardou a chegar. Decidida, me via preparada para me impor e resolver definitivamente a questão. Quando chegou a oportunidade, foi a pior de todas. A baixaria chegou ao ponto de o filho de 17 anos se arrumar para sair de casa, acompanhado da solidária irmã de 19. O filho de 8, desnorteado. O marido usando de todos os recursos da chantagem emocional sobre o valor da mãe deles para chamar a atenção dos enteados - que jamais reconheceriam a autoridade do padrasto. 


E eu? Incrível, mas neste caos, eu vi a solução. 


Em estado de grande exaltação me vi, com uma super crise de hipertensão. Em segundos, estaria sendo levada ao médico, tendo um infarto fulminante no meio do caminho. Morta, enfim. Velório com filhos e marido comovidos, talvez justificando algum remorso. Amigos e conhecidos a procura do que ocorreu nos meus últimos minutos de vida. 


E os diálogos: - "Do que foi?"; "Infarto, fulminante" - "Mas como? Ela parecia uma pessoa tão calma. O que aconteceu?"; "Foi uma crise decorrente do "quem vai lavar a louça". É claro que eu não poderia admitir isso no meu velório. E decidi que não queria morrer desta doença infernal.  


E foi assim, no meio da bagunça total que voltei a enxergar tudo com clareza e me senti capaz de resolver este terrível mal, sem ter que morrer por isso. 
Desisti de tentar mudar ou convencer marido e filhos a terem outro comportamento. Mudei eu.


Assumi o meu papel de dona de casa. Reorganizei meu acordo com a minha secretária para diminuir o trabalho doméstico excedente. No mais, eu mesma limpo quando estou descansada e a fim. Não deixo acumular coisas, além de um limite razoável. Faço tudo com amor e satisfação. Quando não estou com vontade, também não faço, com o mesmo amor e satisfação. Sem culpas, nem para mim, nem para os outros. Não permito que ninguém reclame porque está bagunçado ou porque estou gastando meu tempo que deveria ser livre para faxinar a casa.

Com o tempo, os filhos que ainda moram comigo - um já mora em outro Estado, ajudam e até lavam toda a louça, mas em outro estado de espírito. E eu também os educo, em outro estado de espírito. Sem identificar a louça suja como o grande problema, posso perceber o que deve merecer atenção e ser resolvido nos nossos relacionamentos. 


Hoje, tenho certeza que desta doença, não morrerei.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Os amigos e a opinião alheia

Há situações realmente muito delicadas entre os melhores amigos. Confidentes, com um alto conhecimento da vida um do outro, com um amor sincero e uma tremenda vontade de ver a felicidade do outro. Por mais incrível que possa parecer, estes ingredientes não garantem uma relação saudável.

Foto: Marcio Trevisan 
Todo a atenção para vivermos em verdade, é necessária também dedicar às amizades. Opiniões de pessoas que nos amam e nos apoiam sinceramente são apenas opiniões. Não podem ser encaradas como sentenças a serem cumpridas, como se determinadas por um juiz.

E em situações mais complexas e importantes da vida é bom dar ao amigo uma opção consciente. Uma vez contei a uma grande amiga, o quanto estava apaixonada e determinada a um romance em uma situação facilmente detectada como uma grande fria. De cara, disse: "estou apaixonada, super feliz e vou viver isso, me apoie."

Pronto. Ela soube que eu não queria a opinião dela - que de fato já conhecia. E então, ela me devolveu: "vamos mergulhar nisso, vai ser super legal." Foi e não foi. Mas nossa amizade, com certeza se fortaleceu.
Mas também já me justifiquei na suposta não aprovação de uma amiga ao tomar uma decisão. Muito ruim isso, para mim, minha amiga e a amizade. Aliás, é muito perigoso. A vida é minha, as escolhas são minhas. Opiniões - querendo-as ou não como conselhos a serem considerados, são alheias.

Aviso aos meus super amigos. Sou faladeira mesmo, assumo-me. Mas não tenho a menor vocação para ser responsabilizada por nenhuma decisão, seja lá do meu mais amado e próximo ente. Não importa com quanta veemência eu defenda uma idéia, uma proposta, uma opinião. A decisão é do outro. Cobrar de mim ou simplesmente me responsabilizar, não vai colar! Nem quando der certo...

quinta-feira, 17 de março de 2011

O ofensor não pede perdão, e agora?

Sempre vale muito a pena pensar sobre o perdão, com o objetivo de exercê-lo incondicionalmente. O perdão, para mim, é a base de todo relacionamento. A maneira como estão nossas relações tem ligação importante com a nossa capacidade de perdoar.

Devemos perdoar qualquer ofensa e qualquer ofensor. Mas quando somos nós o ofendido e o ofensor não está nem aí?  Esta é uma situação bastante comum e muito difícil. Muitas vezes as pessoas não querem pedir perdão por covardia ou orgulho. Em alguns casos, a ofensa pode ser gigantesca para o ofendido, mas o ofensor nem a reconhece como uma falta contra alguém. Muitas pessoas são terrivelmente irresponsáveis e egoístas para perceberem ou assumirem tais falhas.

É uma situação muito dolorosa para o ofendido, que requer uma overdose de desprendimento e humildade. Não haverá o reconhecimento da ofensa pelo ofensor – o que aumenta o ressentimento e mesmo assim deve-se perdoar. Como fazê-lo?

A única forma de perdoar nesta hipótese é em oração. Neste caso, o ofendido perdoa o ofensor por não reconhecer a ofensa, em primeiro lugar.  Reconheça para Deus o quanto se sente ferido, peça a força do Espírito Santo de Deus e proclame o seu perdão. 

É um imensurável exercício de fé. Primeiro pela obediência a Deus, cumprindo um ensinamento de Cristo. Depois porque temos que acreditar na força do Espírito Santo para agir na sua vida e na da pessoa que te ofendeu.

Um exemplo. A mãe do meu segundo marido saiu de casa quando ele tinha apenas seis anos. Os dois irmãos eram mais novos, o caçula apenas um bebê. Com seis anos, o meu ex-marido escondeu-se no porta malas do carro do pai para evitar a despedida. Não teve notícias até os 27 anos, quando a própria mãe ligou em casa a procura dele.  O encontro pessoal aconteceu dias depois como se apenas o tempo tivesse passado depressa demais. O pai e a filha do meio já haviam falecido.

A mãe não confessou aos filhos sobre as causas que geraram a separação, muito menos dos conseqüentes ao abandono. Nenhuma explicação, nenhum pedido ou concessão de perdão. Os filhos também não expressaram os sentimentos de perda, de raiva, insegurança.  Meses depois deste reencontro, os três separaram-se novamente. Não havia nenhuma condição para o relacionamento ser reconstruído.

Um segundo exemplo. Uma amiga, aos dez anos, fora abandonada pela mãe que decidiu sair do seu casamento levando apenas a filha mais nova. Minha amiga sentia-se duplamente rejeitada, já que a mãe escolheu a irmã e não ela.

Esta amiga, já adulta, vivia muitos problemas decorrentes deste abandono. A mãe voltara a viver no mesmo bairro dela, com mais um filho e tinha o apoio, inclusive financeiro da minha amiga para honrar suas principais necessidades. Entretanto, o perdão não rolou até que a filha identificasse que a mãe não se sentia em falta com ela.

Enquanto minha amiga, a cada crise, repetia para si mesma: “eu nunca a perdoarei”, a mãe dela seguia a vida sem se dar conta que “precisava” pedir perdão à filha, porque simplesmente não precisava.  Muito provavelmente na cabeça dela, abandonar a filha com o pai era um direito que ela poderia exercer e os sentimentos da filha que ficou não foram valorizados.

O pedido de perdão pode jamais acontecer, mas mesmo assim, diante de Deus, a filha perdoou a mãe. Pediu a Deus que o Espírito Santo agisse na vida das duas, livrando-as de todo sentimento de culpa e de irresponsabilidade.
Como resultado, a moça colheu libertação dos ressentimentos, da tristeza e a reconstrução em bases sinceras de todos os seus relacionamentos familiares - com a mãe, o pai (do qual nunca se afastou) e os irmãos.

Lindo demais! Perdoar e amar, sempre, todo dia, toda hora. 7x 7 vezes por dia, conforme contabilizou Cristo. Funciona. 

domingo, 13 de março de 2011

Aulinha de perdão: perdoar é um ato de fé

Desde criança, minha mãe e avó, principalmente, ensinaram que se deve perdoar sempre e incondicionalmente. Esta ordem vinha atrelada à comparação  com a infinita capacidade de Deus em nos perdoar, por meio do sacrifício de Jesus Cristo na cruz. Poxa, é claro que eu tinha que perdoar. 

Só que a lição ficou pela metade. Minhas queridas não ensinaram a processar o perdão dentro de mim. Tipo assim: se há um ofensor precisando ser perdoado é porque há uma ofensa; se existe uma ofensa, existe também uma ferida emocional no coração do ofendido. 

Como perdoar para que, de fato, a ferida seja curada e, a partir daí sim, o relacionamento entre ofensor e ofendido restaurado? 

Se o perdão for automático ou se não houver perdão, para onde vão os ressentimentos? Se o relacionamento é restaurado e o ofensor continua pisando na bola, eu tenho que perdoar e perdoar e perdoar, a vida inteira, mantendo uma relação sem solução?

Há uma palavrinha que merece atenção especial: amargura. Amargura é o sentimento provocado pelo ressentimento guardado em função do não-perdão. A amargura tem o poder de se instalar no nosso coração e na nossa mente, de forma silenciosa e quase imperceptível; mina a confiança, a esperança, a alegria e o amor. Provoca doenças. 

Sem perdão, ofendido e ofensor ficam ligados em uma aura de maldição.
Afinal, está assumida a oração: “perdoai-nos Pai, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”. Então, enquanto você não perdoa... Deus está autorizado, por nós, como ensinou-nos Jesus, a não nos perdoar. 


desejo mais intenso nos casos de ofensa é do ofensor querer libertar-se, distanciar-se do ofendido. Pelo menos, é o que geralmente se esbraveja para os amigos. Por isso, atenção para este fato: a libertação não acontecerá enquanto não houver o perdão. 

enquanto o perdão não acontece, a amargura se implanta de forma invasiva na nossa alma, contaminando o pensamento, nossos sentimentos e o comportamento.  O estrago pode não ficar restrito àquela relação. O medo, por exemplo, de que a ofensa se repita pode prejudicar e até impedir outros relacionamentos. 

Então, como processar corretamente o perdão? Eu aprendi assim e até elaborei um passo-a-passo que eu chamo de “aulinha do perdão” para não me perder.

1-   Identificar a ofensa e todo o estrago emocional decorrente dela. Atente para o fato de que isso vale para quando você é o ofendido ou quando é o ofensor. O diagnóstico tem que valer para qualquer tamanho de ofensa – grandes, médias ou pequenas. Quando deixamos passar enésimas pequenas, estas viram um monstro de amargura, com altíssimo poder destrutivo.

2-   Identificada a amargura, faça uma oração e peça que o Espírito Santo de Deus, aja na sua vida para que este sentimento não se instale. 

3-   A ofensa pertence ao ofendido. O ofendido é, portanto, o dono do perdão. Ninguém pode perdoar no lugar do ofendido. 

4-   Como seres humanos, não temos a capacidade de perdoar. Humano é querer revidar a ofensa da mesma forma ou com mais intensidade ainda. Só perdoamos porque recebemos um ensinamento que veio de Jesus Cristo. Não há amor, nem paz, sem o perdão. Não há relacionamento com Deus, sem perdão. Então, perdoamos porque acreditamos nisso. Este é o estado de racionalidade do perdão. Perdoamos porque temos fé no amor e no poder de Deus, que é misericordioso por natureza.

5-   Quanto mais imediatamente à ofensa perdoamos, mais rápido recuperamos a saúde física, emocional e de nossos relacionamentos, mas o mais importante: o  perdão rápido é o mais difícil e por isso é uma possante prova de fé. Quando estou com o meu peito dilacerado, minha mente e coração carregados da raiva, tristeza, decepção e humilhação é impossível perdoar – porque não esta não é uma capacidade humana. Este é o melhor momento para pedir socorro a Deus e orar: “eu perdôo tal pessoa que me fez tal ofensa; Senhor que o Espírito Santo lave meu coração de todo ressentimento e amargura.” O mesmo vale para pedir perdão a Deus e ao ofendido por uma ofensa praticada.

6-   É imperativo falar: “eu perdôo” ou “eu peço perdão,” primeiro em oração a Deus e, na seqüência, se você é o ofensor, para o ofendido. 

7-   Acredite que o Espírito Santo vai operar neste relacionamento a fim de libertar – você é o seu ofensor de toda a opressão. Esteja preparado para um encontro.

8-   É comum que mesmo depois de abrir seu coração para Deus e até de ter uma conversa com o ofensor e perdoar com sinceridade, os sentimentos ligados a ofensa ainda possam incomodá-lo. Quando isso acontecer, o pensamento deve ser firme: “eu já perdoei; raiva, amargura, ressentimentos não me pertencem mais.” Ore e chame o Espírito Santo para atuar nesta situação, quantas vezes for necessário.

Este artigo ficou muito longo, e ainda há aspectos importantes a tratar. Vou deixar para próximas postagens. Por enquanto, fica isso: diagnosticar a ofensa, identificar seus sentimentos em relação a isso, orar pela ajuda do Espírito Santo de Deus e perdoar. Funciona.  E muito!