Antonio Fávero, o Tonico, era meu avô, por parte de mãe.
Mineiríssimo, desde que o reconheci nunca mudou de aparência – alto, magro
esguio, orelhas e nariz em tamanhos regiamente italianos, olhos pequenos e
muito azuis. Elegância era uma marca dele. Perfumado, sempre. Calças passadas com vinco e
camisa impecáveis.

Tonico não tinha contas para pagar. Os filhos, de alguma
forma, o sustentavam. A vida mansa do Tonico era motivo de chacota entre os
netos. Veladamente, porque sempre se exigiu respeito ao Tonico, por ser avô e
mais do que isso, pelo simples fato de ser idoso. Aprendemos a respeitá-lo e, assim, a qualquer outro na mesma condição, como deve
ser.
Tonico era queridíssimo – a figura sempre disposta a contar
como havia caçado onças e baleias que matou à unha. Os netos pequeninos
brilhavam de admiração diante de tamanhas façanhas; os mais velhos também
brilhavam com as lembranças do quanto bem fez um dia terem acreditado nas
mesmas histórias. Havia netos de todas as idades porque eram muitos.
Tonico amava andar. Ia de um bairro a outro e, às vezes de
uma cidade a outra, entre as casas dos filhos, sempre à pé. Quando a disposição
era elogiada, já emendava que havia,
inclusive, ido até à sua cidade natal, distante de São Paulo cerca de 300
quilômetros, da mesma forma. E lá vinha mais um causo.
Quando estava cansado, ficava atentando um dos netos a
dar-lhe carona. Pedia até conseguir. Dentro do carro protestava que não ia sem
ajudar a pagar o combustível. “Para no posto que eu vou pagar uma xícara de
gasolina”.
Tonico era bom garfo, o primeiro a servir-se à mesa, o último a sair dela. Mastigava muito devagar. Amassava o feijão, jogava pimenta em cima, depois salpicava a farinha de
mandioca e então, o arroz e o que mais tivesse de mistura. Fazia piadas com os
legumes para incentivar a criançada a comê-los.
Tonico, de repente ficou quieto. Não que fosse de muito
falar, mas esse silêncio era diferente. Dias e dias se passaram. Tonico
levantava-se, arrumava-se e passava o dia sentado no canto do sofá. Sem ver
televisão, sem conversar.
Minha tia preocupou-se, provocava alguma reação e nada.
Convites para passeios e nada. Era certo que o Tonico, até ele, fora vitimado
pela depressão. Sem ter mais o que
fazer, minha tia foi direto ao ponto: “Mas pai, conversa comigo, me diz o que
está acontecendo?” Em resposta, o Tonico
foi mais certeiro ainda: “Penso de um jeito não dá, penso de outro também não
dá”. Matou a charada, mudou de pensamento e saiu do buraco depressivo. Grande tonicoterapia!
Muito bom Regina :-). infelizmente nao o conheci, mas sempre ouco grandes e boas historias dele. Otima iniciativa de mostrar mais essa historia dele, que pode servir de exemplo pra muita gente :-). Beijos. Mari Favero
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