quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Vamos nadar?

Foto: Marcio Trevisan
Muito antes de reconhecer que meu segundo casamento caminhava para o fim, deu uma vontade louca de fazer exercícios físicos. A alternativa mais razoável para a minha jornada - sempre excessiva de trabalho, era aproveitar uma hora de espera dos meus (dois, à época)  filhos que treinavam natação, depois do horário normal de aula. Tudo bem que eles tentavam fingir que não conheciam aquela mulher, com aquele nado desengonçado, na última raia. Era um mico pra eles que tinham 12 e 10 anos.

Eu já sabia nadar, mas sempre tive dificuldade em coordenar a respiração com as braçadas. Desta vez, porém, surgiu uma situação nova. Quando eu mergulhava e tentava abrir os olhos, ocorria uma sensação de pânico. Ao abrir os olhos, a respiração era cortada de súbito, eu engolia água e batia um medo que me fazia parar de nadar.

Não conseguia entender. Insisti. No meu jeitão de racionalizar tudo e tentar construir uma analogia entre o meu estado físico e o emocional, percebi que simplesmente não conseguia enxergar e respirar ao mesmo tempo. E insisti mais. Não conseguia sobreviver, sem me iludir, sem mentir para mim mesma.

Na água, a treinadora providenciou um óculos como recurso paliativo. E assim, a cada mergulho agreguei um pensamento: "quero respirar e enxergar; respirar, sobreviver e enxergar a realidade" - sem máscaras, sem me fantasiar e nem maquiar as pessoas com as quais me relacionava".

Nadava e pensava, olhava, pensava, respirava, olhava e nadava.

Dia após dia, na piscina, a coordenação motora, impulsionada pela força desse pensamento permitiu-me organizar os movimentos de braços, pernas e cabeça com a respiração e... o abrir dos olhos. Meu nado melhorou.

Não muito tempo depois, quando a verdade foi prevalecendo sobre a mentira medonha que reinava naquela relação e toda dor e confusão tomaram conta de mim, voltei mentalmente à piscina. Lembrei-me que eu mesma fiz  a opção de conhecer a verdade e sobreviver. Eu havia rejeitado, de fato, a mentira.

Quando cheguei ao fundo do poço da desilusão e decepção foi nesta base que toquei  para impulsionar-me de volta à superfície.

Encarar que eu não podia sequer me colocar como vítima do mentiroso que era o meu marido, mesmo que isso fosse verdade, foi muito dolorido. Mas eis que sempre nos cabe uma escolha.  Afinal, por mais humilhada ou pra baixo que  pudesse me sentir, o modelito de vítima eu nunca consegui vestir. Mais uma escolha! A verdade maior e gritante: ninguém podia mentir mais para mim do que eu mesma. Euzinha fiz isso! Construi um mundão alicerçado na mentira. E isso não tinha nada a ver com o que, de fato, eu sempre quis.

Este foi um super ponto de partida para radicalizar e aprofundar na opção por este conceito de vida: eu e a minha verdade. Mentir para mim mesma, nunca mais, em qualquer área da minha existência.
Ainda é difícil, muitas vezes, mas  a escolha diária sempre será esta: a verdade.  E daí, a mensagem muito antes da piscina, passou a fazer muito mais sentido. "Conheceis a verdade e a verdade vos libertará". Sacou? E então, vamos nadar?

3 comentários:

  1. Adorei esta postagem!
    Mas antes de tudo, pelo que eu lembre, eu achava muito legal minha mãe nadando ao meu lado. Lembro de uma vez que fui até sua raia, não lembro muito o quê aconteceu, mas tenho uma sensação muito boa.
    Sempre temos que escolher caminhos para aliviar nossas preocupações.Uns no trabalho, uns no esporte, uns de tantas outras formas, mas sempre lembrando que tudo na dose certa.Tudo isso em função de nos descontrair até acharmos o melhor caminho, com toda nossa verdade.
    Para mim a corrida é para achar o ponto de equilibrio, onde nada é mais nem menos, tudo na mais completa harmonia.
    Te admiro muito! E te amo...

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  2. Parabéns Regina ou sem formalidades "Cu doce", estou curtindo muito as sua postagens, e acredito que faz muita diferença em minha vida, os textos aii postados, que vem com um bucado de coisas gostosas e muito especiais, que a vida lhe trouxe de conhecimento e virtudes que nos ajuda a viver.

    Beijos
    Talles

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