sábado, 6 de agosto de 2011

Um tumor maligno ensina a viver. Ou não?

Minha mãe e minha irmã. Foto: Talles Andriolli

Três meses que incluíram um atendimento de emergência, uma noite em UTI, uma montanha de exames e dias de sintomas muito esquisitos nos levaram até ali. Ali, era o leito de um hospital. Eu e minha irmã, ao lado da minha mãe que sofreria a primeira – de duas, cirurgia cerebral. Os médicos já haviam nos informado que o procedimento não é mais o monstro que foi até há alguns anos. Tipo assim: deixou de ser um monstro de 12 metros de altura e passou para um monstrinho de uns cinco, que ainda está longe se  ser amarrado em uma coleira.

O motivo do procedimento era bem mais monstruoso. Um tumor com quatro características apenas: invasivo, o mais agressivo existente, maligno e incurável. Naquele momento, minha mãe não tinha todas estas informações, apenas parte delas. A respeito da cirurgia, mais um dado relevante: não completaria um ano.

Então, estávamos nós três ali. Ali era também a nossa história. Ali era o nosso amor. Ali era tudo o que aprendemos. Ali era o início da despedida.

Perguntei às duas que estão entre as mais importantes mulheres da minha vida: como vamos viver isso? Nenhuma resposta porque minha irmã já estava chorando. Segui. Vamos passar como pessoas que tem fé ou como as que não têm? Não, como quem tem fé – veio a resposta unânime. Então, que seja de verdade. Porque quem tem fé acredita que a vida é eterna. E resolvemos passar este tempo, da mesma forma como passamos por quase tudo na minha família: com alegria.

O médico acertou. Da data da intervenção cirúrgica até o falecimento da Ita foram 11 meses. Um período em que nos dedicamos de todas as maneiras a aproveitar a presença da minha mãe e a nossa união com muita, mas muita alegria mesmo. As festas que já eram tradicionais ficaram mais animadas e os nossos encontros – todos muito especiais.

É claro que teve choro, que não faltou angústia de montes, raiva, dor. 

Mas ali - e ali foi um lugar de decisão, escolhemos aproveitar e valorizar o presente. Curtir intensamente. Meu irmão querido, tão sensível, teve coragem e permaneceu conosco. Foi lindo! Aquela decisão, antes de tudo realmente começar, contaminou toda a família – que é gigante, e foi o norte para os nossos sentimentos e relacionamentos. A experiência mais dolorida foi também a mais rica da minha vida.

Ali é hoje. Independente de perdas irreparáveis e pré-anunciadas temos a informação que nos basta: neste lugar, desta maneira, com estas possibilidades de relacionamentos a vida é finita. Ou será preciso um tumor  avassalador para aprender, de fato, a viver? Ou será que nem assim?


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