Aos 28 anos, primeiro divórcio. Tive um problema de saúde e minha médica sugeriu-me um tratamento homeopático. Já sabia que isso não combinava comigo. Bolinhas ou gotinhas regiamente contadas para serem consumidas em períodos impróprios, como por exemplo, de quinze em quinze minutos. Nunca questionei o resultado, mas era fato que jamais poderia me adaptar a condições como esta para fazer qualquer coisa.
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Foto: Talles Andrioli |
Contudo, escolhi um especialista e parti para uma rodada de consultas e experiências com os tais glóbulos. Este homeopata foi a primeira pessoa a me questionar a respeito de ansiedade. Perguntou-me: “Você é ansiosa?” Ao que respondi de estalo: “Claro que não, só não suporto a morosidade dos outros.” A conversa não prosseguiu, nem o tratamento – porque o médico disse que não conseguia me diagnosticar. Pasme: ele acreditou na minha resposta.
E por mais 20 anos, não pensei nisso.
A resposta dada ao médico não denunciava apenas a ansiedade. Ia junto, uma dose de arrogância, prepotência, autoritarismo. E não denunciava outro componente importante dos meus atributos, o perfeccionismo. Mas o pior de tudo, era que eu gostava de ser assim. O pique, o dinamismo, a disposição infinita, a energia eram marcas conseqüentes que encobriam a verdade – a ansiedade. As pessoas elogiavam, mesmo as mais próximas, que não podiam (-Claro! Quem iria querer?) me acompanhar.
Duas décadas neste padrão deram-me, além de dois divórcios, abortos de várias outras iniciativas mais significativas para a minha vida. Mas, sem dúvidas, a pior conseqüência dizia respeito a duas situações: a minha saúde e a qualidade dos meus relacionamentos mais importantes - com os filhos no topo da lista.
Como demorei a me diagnosticar como uma ansiosa, de carteirinha! Difícil, porque eu também sou uma pessoa muito paciente – não sei como descrever o funcionamento de duas características tão antagônicas em uma mesma pessoa, confesso. Parece que tudo funciona para encobrir o que deve ser corrigido.
E olha, que desde muito jovem, meu avô Tunico perguntava-me, quando me percebia na correria: “Você está adiantada no atraso?” Eu só achava graça, mas quanta sabedoria!
O real diagnóstico veio depois das primeiras férias de trinta dias em quinze anos de trabalho. Tive a oportunidade de fazer uma viagem e ficar todo o tempo fora de contato, sem nenhuma preocupação e pouquíssimas informações a respeito do meu mundo. Não fiz nenhum compromisso, nem mesmo o de descansar ou me divertir. Fui, simplesmente. Mas para permanecer em cada local visitado, de corpo, alma e espírito, foi preciso muito empenho e orações. Consegui, afinal, e voltei.
Duas semanas depois e eu precisava “resolver a minha vida”. Estava para dar cabo de um projeto que consumiu esforço da minha família e de muitas outras pessoas nos últimos dez anos. Não era possível estar tão cansada, esgotada, sem forças, sem visão. Sim, eu poderia acabar com tudo e começar outra coisa nova. E como é bom o começo, com suas novidades animadoras e renovadoras.
Uma conversa com um amigo, que é contador, colocou-me diante do fato que, desta vez, enxerguei de forma transparente. Era mais fácil, pra mim, simplesmente abrir mão de tudo e reiniciar do zero do que me perguntar o que poderia fazer para eu ser nova, para identificar os limites que impediam meu crescimento e realmente ultrapassá-los.
Conforme meu entendimento sobre a ansiedade se ampliava, sentia vergonha de demorar tanto para percebê-la. E meu primeiro exercício foi não ficar ansiosa para acabar com a ansiedade.
A voz de Deus em mim passou a me dizer (agora eu a ouvia) a todo instante: “Espera!” É difícil mudar o padrão de uma vida inteira. Confio e troco a ansiedade pela serenidade. É uma troca incrível! Com ela, consigo permanecer no presente – em tempo, espaço, pessoas e eu mesmo. É claro que ainda tenho que me segurar para não disparar para o futuro ou o passado e manter a minha atenção, em verdade, no aqui e agora.
Encaro as alegrias, os dissabores, o que pintar; me posiciono, sem me preocupar em ser perfeita. Tenho um Deus perfeito e a consciência de que nunca atingirei a perfeição - ainda bem!
Como bem tentou ensinar o Tunico, aquele que quer se adiantar está fadado ao atraso. O presente é o tempo da vida, o único que pode ser afetado, impactado e modificado pela minha presença. Se eu estiver presente. Tunicoterapia, valeu!